(Reflexão sobre a Temática Armadilhas Conceituais e Limites do Curso de Filosofia Clínica do Instituto Lúcio Packter)
__________________________________________
Imagine uma sociedade, a vida, a individualidade a partir de uma época na qual supostamente não tenhamos mais Armadilhas Conceituais, mas sim Limites.
De maneira introdutória, vamos apenas ratificar que as Armadilhas Conceituais têm como características o aprisionamento existencial da pessoa. Esse aprisionamento, partindo de um estudo da Estrutura de Pensamento (EP) da pessoa, pode ser apresentado como algo nocivo à existência da pessoa – portanto, algo que necessita ser interrompido, quebrado, a fim de que a pessoa possa ter uma vida melhor. Em outra situação, o estudo profundo da EP da pessoa revela-nos uma espécie de “mal necessário”. Ou seja, às vezes torna-se preferível a convivência com a Armadilha Conceitual identificada, como forma de se ver livre de uma Armadilha maior, mais nociva e mais aprisionante.
Os Limites são apenas referências, marcos, indicadores dos seguimentos existenciais. Não são impedimentos contra os quais a pessoa elege ações de oposição. Porém, os Limites, assim como as Armadilhas Conceituais podem ser difíceis de delimitar. Ás vezes a diferença entre ambos pode ser difícil de ser definida pela pessoa.
Propondo refletir sobre a temática apresentada acima, vale lembrar que “de um modo geral, a nossa época caracteriza-se por grandes e inúmeras Armadilhas Conceituais. É muito provável que, num futuro próximo, o ser humano viva com muitos Limites e poucas Armadilhas Conceituais – quase nenhuma. Aproxima-se uma época... na qual as Armadilhas Conceituais não serão mais necessárias como são hoje – pela própria sociedade, pela própria estruturação existencial que montamos. Elas nos protegem, nos orientam, nos dão rumo. Mas estão com os dias contados. É provável que, muito em breve, teremos dias diferentes”(L.Packter). Os Livros Sagrados (Evangelhos), o filósofo Nietzsche e outros filósofos e teólogos apontam, prenunciam essa nova época em que nos veremos livres das Armadilhas Conceituais. Cabe acrescentar, também, sobre esse prenúncio de uma nova época o pensamento do Pe Teilhard de Chardin (O Fenômeno Humano) em que o filósofo e teólogo anuncia uma Nova Visão da realidade, a Visão Hiperfísica, pela qual tudo é um só todo dinâmico, um processo que se vai orientando e evoluindo ao longo do Espaço-Tempo e que culminará na pura espiritualidade do Ponto Ômega. Dentro dessa visão evolutiva da natureza, Chardin aponta para uma época chamada de Noosfera (a esfera do Nous – do pensamento, do espírito), onde o homem, vendo-se livre das (amarras) armadilhas do mundo da Antroposfera, pode atender mais livremente aos anseios do próprio espírito em direção ao Ponto Ômega. Trata-se (a Noosfera) de uma saída coletiva, um salto qualitativo da evolução.
Ora, imaginar uma sociedade onde a vida coletiva e individual viva livre das amarras e aprisionamentos das Armadilhas Conceituais não é tão fácil. Torna-se mais fácil quando levamos a reflexão para o campo da fé e da esperança cristã – o próprio Cristo nos profetizou uma nova Terra, após uma série de acontecimentos. Porém, quando nos deparamos com os fatos – tanto a nível local, como global – somos tentados a um certo ceticismo quanto à possibilidade de o homem viver apenas com Limites, sem as Armadilhas Conceituais. Ao mesmo tempo em que a humanidade caminha a passos largos em descobertas e conquistas científicas, ao mesmo tempo em que torna mais acessível a informação e o conhecimento humanos; por outro lado, paradoxalmente, nos deparamos com situações que nos questionam a respeito dessa utopia. Ou seja, ainda vivemos em um mundo onde a miséria existencial se faz presente.
Porém, o desafio apresentado – pensar uma nova época na qual supostamente não tenhamos mais Armadilhas Conceituais, mas sim Limites – corroborado pelas esperanças evangélicas, o pensamento de alguns filósofos e teólogos e a própria colocação de Packter sobre o surgimento iminente de um novo contexto existencial é um convite a renovar as nossas esperanças quanto às possibilidades existenciais. Penso que uma sociedade caracterizada pela vivência apenas dos Limites supõe imaginar uma sociedade cuja evolução das consciências superou toda forma de fragilidade em que o corpo, a mente e a alma estão sujeitos. Trata-se de uma época em que os padrões de existencialidade são marcados por um salto qualitativo em que o homem se ve capaz de apreciar a si próprio e o outro, e direcionar suas atitudes e ações a partir de uma consciência possível de enxergar com maior clareza o todo da própria existencialidade.
Por fim, pensar em tal dimensão significa refletir sobre a própria construção da existencialidade humana, cujas escolhas se direcionarão (necessariamente) para a formação de uma sociedade em que primeiro garanta a sobrevivência da própria espécie e da natureza, como um todo; e onde a vida possa fluir respeitando os Limites próprios e dos outros, visando o bem próprio e o bem comum.
_______________________________________
Celsio Elias Carrocini - Franca-sp.