O julgamento de Sócrates |
1. Vida
Sócrates nasceu em 469 aC, em Atenas. Seu pai, Sofronisco, era escultor, e sua mãe, Fenareta, era parteira. Sócrates adotava uma aparência simples. Andava descalço tanto no inverno como no verão. Começou o estudo de filosofia ainda jovem.
O acontecimento decisivo de sua vida deu-se quando o oráculo de Delfos revelou a um seu amigo que nenhum homem era mais sábio do que ele. Procurou interpretar o significado do oráculo e concluiu que ele era o mais sábio porque tinha consciência de sua própria ignorância.
A sua vocação, portanto, era ensinar a verdade aos homens. Procurado pelos jovens, passava horas discutindo na praça pública.
Em 400 aC foi acusado de impiedade e de corrupção da juventude. Os acusadores pediram a pena de morte, esperando que Sócrates se salvasse indo para o exílio antes da instauração do processo. Mas ele enfrentou o processo e serenamente fez sua própria defesa. Foi condenado à morte. Podendo propor uma pena alternativa, sugeriu uma pequena importância em dinheiro. Irritado, o tribunal confirmou a sentença de morte, que o próprio Sócrates executou, bebendo a cicuta.
2. A missão de Sócrates
Sócrates não deixou nenhum escrito, seu pensamento só pode ser conhecido através de outras fontes, isto é, dos autores que falam dele. Os principais são Xenofonte, Platão e Aristóteles.
Eis a missão de Sócrates: incitar os homens a se preocuparem antes de tudo com os interesses da própria alma, procurando adquirir a sabedoria e a virtude. Persuadia os homens a se tornarem bons e sábios.
3. O método: a ironia e a maiêutica
Sócrates parte do pressuposto: "Só sei que nada sei", que consiste justamente na sabedoria de reconhecer a própria ignorância, ponto de partida para a procura do saber.
Por isso seu método começa pela parte considerada "destrutiva", chamada ironia (em grego, perguntar). Nas discussões afirma inicialmente nada saber, diante do oponente que se diz conhecedor de determinado assunto. Com hábeis perguntas, desmonta as certezas até o outro reconhecer a própria ignorância.
Parte então para a segunda etapa do método, a maiêutica (em grego, parto, dar à luz). Dá esse nome em homenagem a sua mãe, que era parteira, acrescentando que, se ela fazia parto de corpos, ele "dava à luz" ideias novas. Com suas perguntas, Sócrates deixa embaraçado e perplexo aquele que está seguro de si mesmo, fá-lo ver novos problemas, desperta a sua curiosidade e estimula-o a refletir. Sócrates, por meio de perguntas, destrói o saber construído para reconstruí-lo na procura da definição do conceito, por meio da qual pretendia atingir a essência das coisas. E, no final, nem sempre Sócrates tem a resposta. Por razões de método, seus diálogos levantam uma questão, mas não dão a solução. Servem para por o interrogado no caminho da solução para que ele mesmo a encontre.
4. Sócrates e os Sofistas
Sócrates foi o mais enérgico adversário dos sofistas. As divergências são as seguintes:
a) Os sofistas buscam o sucesso e ensinam como conseguí-lo. Sócrates busca só a verdade e incita seus discípulos a descobrí-la.
b) Segundo os sofistas, para se ter sucesso é necessário fazer carreira. Segundo Sócrates, para se chegar à verdade é necessário desapegar-se das riquezas, das honras, dos prazeres, reentrar no próprio espírito, analizar sinceramente a própria alma, conhecer a si mesmo, reconhecer a própria ignorância.
c) Os sofistas se gabam de saberem tudo e de ensinarem a todos. Sócrates tem a convicção de que ninguém pode ser mestre dos outros. Ele não é mestre, mas maieuta; não ensina a verdade, mas ajuda seus discípulos a descobrí-la neles mesmos.
5. Ensinamentos filosóficos
Os conceitos universais que Sócrates se preocupou mais em definir são os de bem, de justiça, de felicidade e de virtude, isto é, os conceitos éticos.
Para Sócrates a moralidade identifica-se com o conhecimento: a sabedoria é virtude e a virtude identifica-se com a sabedoria. Se o homem peca, é por ignorância, porque não é admissível que, conhecendo o bem e o mal, escolha o mal e não o bem. Os homens que fazem o mal ignoram o bem ou não sabem que o que escolheram é mau.
Sócrates incita seus ouvintes a procurarem a verdade e a sabedoria, porque somente a verdade e a sabedoria tornam o homem livre e virtuoso.
A felicidade consiste na honestidade, na prática da virtude. Não consiste em algo exterior e passageiro (riqueza, honras, prazeres), como ensinavam os sofistas, mas na consciência reta, no seguir sempre os ditames da razão; numa palavra, na prática da virtude.
O conhecimento de Socrates não é livresco, e seu conteúdo é a experiência cotidiana.
Guia-se pelo princípio de que nada sabe (só sei que nada sei). Desperta as consciências adormecidas, porém, o caminho novo deve ser construído pela discussão e pela busca criativa das soluções.
Fonte:
ARANHA, Maria L.A. Filosofando - Introdução à Filosofia. São Paulo, Ed.Moderna, 1993.
MONDIM, Battista. Curso de Filosofia, vol.1. São Paulo, Ed.Paulus, 1981.